Desde o século 18, com as ideias de Thomas Malthus, há o temor de que a produção de alimentos não acompanhe o crescimento populacional. No entanto, inovações no século 20 — como mecanização e melhoramento genético — provaram o contrário: hoje o mundo produz mais do que consome. Ainda assim, a fome persiste, não por escassez, mas por má distribuição, desperdício e desigualdades sociais.
Agora, o agronegócio enfrenta novos desafios: mudanças climáticas, escassez de recursos naturais, urbanização crescente e aumento da demanda alimentar. A ONU projeta que, até 2050, será necessário produzir 60% mais comida, 50% mais energia e 40% mais água. Segundo Ria Hulsman, da Universidade de Wageningen, o mundo já produz o suficiente — o problema está na eficiência da distribuição e no uso dos recursos.
O Brasil, como potência agrícola, tem papel estratégico nessa equação. Para Rafael Zavala, da FAO, o principal desafio é produzir mais e melhor com menos. Isso envolve superar barreiras como a escassez de mão de obra rural, onde apenas 10% dos brasileiros trabalham no campo. A resposta está no avanço tecnológico: mecanização, automação, qualificação profissional e valorização salarial.
A água também é um recurso-chave. Lavouras irrigadas, apesar de ocuparem apenas 20% das áreas agrícolas globais, são responsáveis por 40% da produção mundial. No Brasil, a irrigação representa mais da metade do consumo de água, o que exige soluções eficientes para conciliar produção e preservação.
Outro ponto crítico é a necessidade de reduzir o impacto ambiental. Isso inclui combater a degradação do solo, promover a agricultura regenerativa, destinar corretamente os agroquímicos e expandir programas como o Campo Limpo, que já garante a reciclagem de embalagens vazias de defensivos agrícolas.
Além disso, um terço dos alimentos produzidos no mundo é desperdiçado. Esse descarte representa não apenas fome, mas perda de água, energia e recursos. Reduzir o desperdício, investir em armazenamento e logística e garantir melhor gestão alimentar são medidas urgentes.
A expansão agrícola também deve ocorrer sem desmatamento. Com tecnologias como drones e satélites, é possível aumentar a produtividade em áreas já ocupadas, sem abrir novas fronteiras. A preservação ambiental, nesse contexto, não é inimiga da produção, mas aliada estratégica.
A distribuição desigual continua sendo um gargalo. Crises econômicas e climáticas elevam os preços dos alimentos, tornando-os inacessíveis a milhões. A fome, que afeta mais de 13 milhões de brasileiros, exige políticas públicas e soluções sustentáveis que integrem produção, acesso e justiça social.
Por fim, o papel da tecnologia é fundamental: digitalização, agricultura de precisão, sensores, sistemas de gestão, pulverização inteligente com IA — tudo contribui para uma produção mais eficiente, sustentável e inclusiva. A Bosch, por exemplo, desenvolve sistemas que aplicam herbicidas apenas onde há ervas daninhas, reduzindo o uso de químicos, protegendo o solo e aumentando a qualidade dos alimentos.
Para vencer os desafios do agro, é preciso inovar, preservar, distribuir melhor e tornar a agricultura mais justa, eficiente e conectada com o futuro.